Uma aliança que custou a própria dignidade

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Luísa, com seus 35 anos, sempre nutriu o sonho de ser pedida em casamento. Ela percebia esse acontecimento como algo muito importante na vida de uma mulher. Sendo mais específica, para ela, a mulher que era escolhida por um homem para casar tinha o seu valor confirmado perante a família e a sociedade. Em suma, ser pedida em casamento era uma espécie de ostentação no mais alto requinte, na visão de mundo dela.

Esse desejo foi se tornando uma necessidade, algo que beirava o desespero, conforme o tempo ia passando. Sim, Luísa foi criada ouvindo que “mulher depois dos 30 é velha para casar”. Ter um marido tornou-se uma urgência para aquela mulher que se sentia invisível e inferior por não ter uma aliança no dedo anelar esquerdo.

Eis que Luísa conheceu um moço 10 anos mais velho e, mesmo sem entusiasmo algum, iniciaram um namoro. Tratava-se de um homem recém divorciado, depressivo e muito conectado à ex. O moço parecia um m0rto-vivo de tanta apatia, mas como a ex dele havia arrumado um companheiro, ele também quis “dar o troco”. O namoro insosso durou alguns meses e, advinha?! Luísa foi pedida em casamento. Ocorre que o pedido ocorreu de uma forma nada romântica. O moço mandou fabricar as alianças e, numa determinada manhã, chamou a moça para dar uma volta. Acabou levando-a ao local onde encomendou as alianças. O pedido de casamento foi feito dentro do cubículo onde o ourives trabalhava. E o pedido foi feito assim: “pronto, está aqui a aliança que você tanto queria. Você vive me cobrando casamento, então vamos casar”. Segundo a Luísa, a fala e a postura do noivo eram puro descaso e desdém, ao ponto de o próprio ourives demonstrar constrangimento e até pena dela. 

Pronto, Luísa estava com aliança no dedo, fora pedida em casamento. Ela só não contava com aquele sentimento de humilhação e indignidade que vieram no pacote do noivado. Seus olhos eram pura tristeza e melancolia. Chorava quase todos os dias até chegar o casamento, que estava agendado para 5 meses depois. Casaram-se com um total de zero entusiasmo. Chorou na lua de mel, ali ela teve a dimensão do quanto seria infeliz. Luísa passou a conviver com um sentimento de estar sepultada em vida. O casamento durou 3 anos. Ela adoeceu, secou, a alma gritou por socorro. Esteve entre desistir de viver e se escolher. Ela se escolheu. Foi a melhor escolha da vida dela. Luísa ressuscitou. Luísa vive. Luísa se reencontrou. Luísa encontrou o próprio norte e o próprio valor. Ela levou muito tempo para se perdoar por aquele casamento, mas conseguiu. Ela voltou para si. Tá linda. Seus olhos nunca brilharam tanto na vida.

 

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